Entre o TER e o SER: o dilema de educar no Século XXI

01/12/2020

A pós modernidade representa, em termos sociológicos e antropológicos - e em particular para a educação - uma ruptura sem precedentes naquilo que se trata de VALOR.  Desde o início da família burguesa - quando a infância passa a se constituir num período único e com demandas próprias - houve uma preocupação constante dos adultos com a COGNIÇÃO e a MORALIDADE de suas crianças, extensiva não só aos pais e escolas, mas a todos os adultos que de algum modo atuavam como educadores nas diversas relações sociais.
 
A segunda metade do Século XX e estas primeiras décadas do Século XXI, contudo, têm se revelado danosas para nossas crianças! Uma nova arquitetura familiar (marcada pelo pequeno número de filhos), a violência urbana, a facilidade de consumo, a inserção da mulher no mercado de trabalho e a tecnologia acessível e ilimitada são fatores que atuam diretamente para este cenário.
 
Famílias numerosas produziam pais mais austeros e menos afetados pelas subjetividades, produzindo nas crianças uma maior capacidade de lidar com perdas; a crescente e desordenada urbanização, produtora de um cenário de violência, privou a infância de frequentar a rua, que, em última análise, permitia a experiência dos desafios sociais, munindo cada sujeito de ferramentas que seriam essenciais para a formação de adultos resilientes e fortalecidos para as adversidades; a ida da mulher - sobretudo das mães - ao mercado de trabalho, principalmente em cenários familiares sem muita estrutura de acolhimento e organização das rotinas, produziu em muitas relações dos adultos com sua prole um sentimento emergente de culpa que, somado à facilidade de consumo, provocou uma tentativa no mínimo atrapalhada de substituição da presença pelo presente, agravando o cenário de esgarçamento dos valores, tão centrais nas gerações anteriores.
 
Por fim, o acesso total e irrestrito às tecnologias - agravado no cenário de pandemia - parece ser capaz de piorar ainda mais o que já estava ruim: a "geração Google", imediatista e incapaz de percorrer longos caminhos para se chegar a um objetivo, é frágil, superprotegida e - pasmem! - pesquisas realizadas em alguns países e divulgadas recentemente pela BBC News do Brasil apontam que essa é a primeira geração a ter o QI abaixo da geração de seus pais.
 
Tomando como referência Jean Piaget - teórico importante no que diz respeito ao desenvolvimento - é na ação que exercemos sobre o meio (que nos solicita o tempo todo) que vamos ampliando nossas estruturas cognitivas de forma contínua, até chegar ao mais complexo nível de desenvolvimento, a saber, o pensamento abstrato. Considerando dois dos aspectos que carimbam a pós modernidade, o excesso de proteção e a facilidade de ter, podemos supor sem nenhum esforço que estamos privando nossas crianças de desenvolver a inteligência e o pior: legando às próximas gerações uma ruptura da filogenética humana (seria esse o momento do pontapé inicial de uma involução?).
 
Neste cenário, nós da Escola Monteiro Lobato somos insistentes na premissa de que a educação precisa ensinar para a coletividade, sem perder de vista um fio condutor de valor, que de forma capilar atinge a cada um dos sujeitos. Insistimos num ensino voltado para o desenvolvimento de competências, em contraposição à lógica disciplinar, voltada exclusivamente para a criação de escores para testes.
 
Por fim, entendemos que conflitos sociais representam conflitos cognitivos, que por sua vez, produzem de forma efetiva a INTELIGÊNCIA.
 
Precisamos - todos nós educadores - subverter a ordem do imediatismo/consumismo, a fim de desqualificar o cenário tenebroso que se desenha para as próximas gerações.
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Escola Monteiro Lobato, reinventando o fazer educativo!